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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Pessoas com deficiência visual participam de campeonato de goalball em Florianópolis

Pessoas com deficiência visual participam de campeonato de goalball em Florianópolis Felipe Carneiro/Agencia RBS
Foto: Felipe Carneiro / Agencia RBS
Ao perder completamente a visão, aos 33 anos, Zulmara Andrade, hoje com 48, mergulhou em profunda depressão. Um glaucoma deixou tudo no escuro, nada mais era como antes. Por nove anos foi assim, até o dia em que o esporte trouxe de novo a luz para a vida da moradora de Chapecó. Através do goalball, desenvolvido após a 2° Guerra Mundial para reabilitar e socializar veteranos de guerra que ficaram cegos, ela se reencontrou consigo mesma e transformou a limitação em superação, o problema em solução.
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Em Florianópolis, para a disputa da Copa Quatro Estações, que reuniu equipes de goalball de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, Zulmara era um dos exemplos do poder do esporte. Ao lado dela, que começou a jogar em 2010, duas adolescentes de 17 anos faziam sua estreia no goalball na quadra do ginásio do Sesc da Prainha, no Centro da Capital. Nem a derrota no primeiro jogo tirou o ânimo do grupo, que encarou quase 10 horas de ônibus para estar na cidade.
— O goalball me motivou muito a ter vontade de viver, porque quando eu perdi a visão, meu Deus, pensei que a minha vida tinha acabado — conta.
Mas não, sua vida estava apenas recomeçando, agora de um jeito diferente. Da mesma maneira que recomeçou para Paulo Roberto Homem, 46 anos, jogador de goalball da Associação Catarinense de Esportes Adaptados de Santa Catarina (Acesa/SC).
Natural de Florianópolis, ele, que disputou os Jogos Paralímpicos 2008, em Pequim, na China, descobriu aos 25 anos uma retinose pigmentar, que o fez perder a visão quase totalmente. Hoje, estima ter 7% de visão. Para quem cresceu surfando, a limitação poderia ser um baque. Não foi: em 2000, o paradesporto entrou em sua vida, praticando atletismo e natação. Em 2003, ele conheceu o goalball por meio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que mantém parceria com a Acesa/SC, ao ceder a quadra e auxiliar bolsistas que treinam os atletas.
— Desde que entrei no goalball conheci dois países, China e Canadá, e viajo o Brasil inteiro — comenta Paulo, um dos que carregou a tocha olímpica pelas ruas de Florianópolise agora se prepara para a disputa do campeonato brasileiro da modalidade, em outubro, em Jundiaí/SP. 
Depois de mais de 13 horas de viagem desde Londrina, no Paraná, Adenílson Vicente, 38 anos, mostrou em quadra as credenciais que já o fizeram disputar ummundial de goalball com a seleção brasileira. Era ele quem mais atacava os adversários. Seus lançamentos eram fortes e imprevisíveis, mas ele não costuma contar os gols que faz, pois ¿atrapalha a concentração¿. 
A reportagem da Hora contou pelo menos quatro tentos, na partida em que sua equipe, o Instituto Roberto Miranda, de Londrina, venceu por 9 a 5 a Associação dos Cegos do Vale do Itajaí (Acevali), de Blumenau.
— Não conto os gols, preciso me preocupar com a jogada seguinte, tem que estar atento — disse. 
A Copa Quatro Estações, que reuniu oito equipes no masculino e quatro no feminino, terminou neste domingo, e outras duas etapas ainda serão disputadas em Londrina/PR e Porto Alegre/RS. Ao final da competição, haverá premiação em dinheiro aos vencedores.
Foto: Felipe Carneiro / Agencia RBS
Como é praticado
Ao contrário de outros esportes paralímpicos, o goalball foi desenvolvido exclusivamente para pessoas com deficiência – neste caso, a visual. A modalidade é praticada por homens e mulheres, em suas respectivas categorias, e os atletas são obrigados a jogar com os olhos vendados para assegurar a igualdade das condições visuais.
As partidas são disputadas numa quadra com as mesmas dimensões de uma de vôlei (9m x 18m), com dois tempos de 12 minutos. As balizas medem 9m x 1,3, e a bola tem 76 cm de diâmetro, pesa 1,250 kg e possui guizos internos que permitem ao atleta ter a orientação de sua localização no momento do jogo. Por isso o silêncio durante as partidas é fundamental para o bom rendimento dos atletas.
Cada equipe conta com três jogadores titulares e três reservas. O objetivo do jogo é o gol, e o time que fizer mais ao final dos 24 minutos totais de partida vence a partida.
Pouco incentivo
Se a visão é limitada, a audição e o tato são aguçados. Na quadra, jogam vendados, mesmo assim mostram enorme orientação de espaço e direção: aprendem a se posicionar, a discriminar sons, tempo, distâncias e deslocamento.
Apaixonado pelo esporte, Roger Lima Scherer, 33 anos, técnico da Acesa/SC e coordenador da Copa Quatro Estações, conta que todo dia ¿é um aprendizado¿ com os atletas de goalball.
Até nos dias de chuva, quando o esporte não costuma ser praticado, recebe pessoas sedentas para jogar na quadra da UFSC. O retorno que recebe dos praticantes, revela, é o que mais ¿gratifica¿ seu trabalho.
— Tudo isso é uma ferramenta de reabilitação, de reinserção dessas pessoas na sociedade, porque até para caminhar na rua eles precisam da confiança que a prática do goalball traz. É muito importante para eles.
Ao assistir umas das partidas ao lado da reportagem da Hora, mostrava que, apesar de os jogadores não enxergarem um palmo à frente, todos se movimentavam intensamente na tentativa de fazer ou evitar os gols.
— Se você trabalha só com o processo de reabilitação tradicional, você vai aprender as técnicas para poder se reinserir na sociedade, mas não vai ter destreza motora, não vai ter agilidade para o caso de pisar sem querer em uma calçada, pois nossas calçadas não são acessíveis, então, o esporte traz tudo isso junto — observa.
Roger explica que o Sesc é uma das poucas entidades que ajuda no desenvolvimento do goalball, em ações como a do fim de semana, em que o espaço da competição foi cedido para o evento. Empresas e poder público, no entanto, não apoiam como poderiam o esporte.
— Como é um esporte que não leva muito público, até por haver a exigência de silêncio, o apoio é bem limitado.
Resultados do domingo
Masculino 
Primeiro: Instituto Roberto Miranda (IRM)
Segundo: Acesa
Terceiro: Amacap

Feminino 
Primeiro: Acergs 
Segundo: Acevali 
Terceiro: Adevifoz

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