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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

'Pokémon Go' ajuda a esquecer problemas, diz criador do game



Há um mês, usuários de smartphones em várias partes do mundo estão entretidos buscando pokémons pelas ruas com base em mapas que veem no aparelho, um produto de uma companhia liderada por John Hanke, 49.
Não é a primeira vez que usuários de internet ficam entusiasmados por misturar o real e o virtual em um produto dele: há uma década, eles passaram a poder ver, por meio do Google Earth, imagens tridimensionais de suas cidades, encontradas por meio de um mapa-múndi 3D.
"Eu cresci me debruçando sobre os mapas de lugares exóticos como a Amazônia na revista 'National Geographic'", disse ele em entrevista por e-mail àFolha.
O Earth foi desenvolvida pela Keyhole, uma empresa criada pelo executivo e depois vendida ao Google –ele ainda trabalhou no desenvolvimento do Google Maps antes de criar, incubada na gigante das buscas, a Niantic, produtora de "Pokémon Go".
Em 2015, a produtora saiu do Google, mas levou US$ 30 milhões de investimento para desenvolver o jogo, que é uma parceria com a Pokémon Company e a Nintendo.
A principal força é a nostalgia, por fazer jovens adultos lembrarem de uma série clássica da infância no fim dos anos 90. "É um modo de ser criança de novo. Você pode esquecer seus problemas, sair para andar, pegar alguns pokémons e no fim se sentir relaxado", diz ele.
Para manter o desempenho, "Pokémon Go" terá de melhorar a interação entre os jogadores, criar uma missão clara para que eles continuem jogando, pontos fracos que os usuários intensos já notaram. Nesta entrevista, ele fala sobre os planos para não deixar que o jogo caia logo no esquecimento.
Folha - Quando, há mais de uma década, estava trabalhando no Google Earth, você imaginou que um dia o mapeamento on-line seria usado para jogos?
John Hanke - Desde o início do Google Earth eu sempre quis construir um jogo com ele. Games foram os primeiros programas que eu criei em um computador e eu sempre amei mapas. Eu cresci me debruçando sobre os mapas de lugares exóticos como a Amazônia na revista "National Geographic". Então combinar jogos e mapas foi natural. A tecnologia que tornou isso possível foi o smartphone: à medida que passamos a ter o Google Maps e o Earth nos celulares e sistemas de GPS, era apenas questão de tempo até que esses pudessem ser combinados em um game.
Como você vê o futuro da realidade aumentada? O celular é o aparelho definitivo para ela?
O smartphone é uma ótima invenção, mas também é meio esquisito usá-lo. Pense nos relógios: grandes aparelhos estáticos que se tornaram relógios de bolso e depois de pulso. Nós estamos na fase "relógio de bolso" dos smartphones. A experiência pode ser muito melhor se nós integramos o poder dele aos nossos olhos e ouvidos de um modo mais fluido. Isso é a realidade aumentada. Quando isso acontecer, tudo o que nós fizermos em smartphones —nos comunicarmos, comprar, paquerar, jogar— vai ficar mais fácil.
Por que demorou um mês para que "Pokémon Go" chegasse ao Brasil?
Nós queríamos lançar o jogo no mundo todo no decorrer de alguns dias. Entretanto, a resposta a "Pokémon Go" foi bem maior do que as nossas expectativas. Demoramos algumas semanas para mudar o software do nosso servidor e ligar máquinas adicionais para que pudéssemos dar conta dos mercados em que nós entramos inicialmente. Nós todos nos sentimos mal de não chegar ao Brasil mais rapidamente, especialmente por causa da Olimpíada. Nós sabíamos que tínhamos que lançar antes dos Jogos.
Como você vê o Brasil do ponto de vista de negócios? Nós só vamos sobrecarregar os servidores ou seremos importantes para o faturamento?
Muito da diversão com "Pokémon Go" vem de jogar onde quer que você estiver, mesmo viajando. Nós não pensamos em países como mercados separados, mas sim em um grande game interconectado. Se as pessoas puderem jogar o mesmo game em todos os lugares, falar sobre ele e compartilhar suas experiências, isso ajuda o produto a ser bem-sucedido. A população e a mentalidade do brasileiro fazem com que o país seja uma parte importante dessa equação.
Que tipo de usuário você tinha em mente ao desenvolver o jogo? Por que adultos estão tão interessados nele?
Nós esperávamos que fãs dos games antigos de "Pokémon" fossem nosso público-alvo, esperando que eles fossem donos de smartphones nas faixas de 20 e 30 anos. Mas a gente ficou entusiasmado com a reação que o jogo está tendo com jogadores de todas as idades. Para adultos, acho que é um modo de ser criança de novo. Você pode esquecer seus problemas, sair para andar, pegar alguns pokémons e no fim se sentir relaxado e recarregado. É um jogo que ajuda você a se exercitar um pouco, ver novos lugares, divertir-se com amigos e até conhecer gente.
Como você vê o nível de perigo do jogo? Tem gente que cai, houve casos de atropelamentos...
Nós levamos a segurança do jogador muito a sério e queremos que todo mundo tenha uma experiência fantástica, mas segura, ao jogar "Pokémon Go". Nós estimulamos as pessoas a estarem cientes do ambiente ao redor e a jogar com amigos e familiares, especialmente em lugares que elas não conheçam. Nós lembramos os jogadores de que eles devem estar alertas o tempo todo, não jogarem quando dirigem, respeitarem os locais que eles visitam e as pessoas que encontram.
Usuários mais intensos dizem que, com o tempo, ele começa a ficar chato: depois de capturar muitos pokémons, não há mais muito o que fazer, razões para continuar.
O game acabou de ser lançado, e nossa intenção é que ele dure anos. "Ingress" [jogo anterior de realidade aumentada da produtora] é um ótimo exemplo de como nós vamos avançando constantemente para expandir nossos games, adicionando novos recursos de modo bastante regular. O "Ingress" que você baixa e joga hoje é muito, muito diferente daquele que nós lançamos em 2012. Nós temos muitos planos sobre como "Pokémon Go" vai crescer com o tempo e esperamos que nossos jogadores sejam parte do processo, nos mostrando coisas sobre o jogo que nós nunca esperaríamos. Eventos ao vivo já são uma parte importante de "Pokémon Go" e nós vamos criar os nossos próprios eventos no futuro. E claro que ainda há muitos pokémons, incluindo alguns muito especiais, que ainda não apareceram no jogo.
Alguns lugares como o Museu do Holocausto em Washington e alguns cemitérios pediram para serem removidos do jogo. Como você vê esse tipo de pedido?
Pokestops [locais reais para obter acessórios do jogo] e ginásios [centros de batalha] são encontrados em lugares públicos acessíveis como centros históricos, instalações públicas de arte e áreas de negócios. Esses lugares foram submetidos por jogadores do nosso primeiro jogo de "mundo real", o "Ingress", ao longo dos últimos anos e refinados pela comunidade. Se alguém reporta uma pokestop ou um ginásio como inapropriado, nós trabalhamos para resolver o problema.
Idade: 49
Formação: graduado pela Universidade do Texas, com MBA pela Universidade da Califórnia em Berkeley
Trajetória: Cofundador e presidente da Keyhole (2000-2004), vice-presidente do Google (2004-2010), fundador da Niantic (de 2011 até agora)
O que é realidade aumentada?
Como o nome indica, o objetivo dessa tecnologia é adicionar elementos virtuais à realidade, ao ambiente ao nosso redor; no caso de "Pokémon Go", fazer com que criaturas apareçam em cenários reais, nas ruas, algo que se tornou possível por causa da integração do game à câmera do smartphone
Como os pokémons aparecem na tela?
Em geral, programas de realidade aumentada funcionam assim: o app procura por um marcador físico na tela (algo definido pelo desenvolvedor). Quando esse item é encontrado, um objeto 3D é sobreposto a ele. A câmera serve para detectar a posição relativa do marcador, e o smartphone rastreia a localização dele e do usuário, o que permite que o usuário se movimente ao redor do objeto. No caso de "Pokémon Go", trata-se algo mais simples: o game apenas acrescenta a criatura 3D sobre a imagem gerada pela câmera. O GPS e o acelerômetro do celular fazem com que o bicho mude de posição na tela de acordo com o ângulo com o qual é mirado pelo usuário
Como os pokémons são distribuídos?
O jogo usa dados de geolocalização para posicionar as criaturas pela cidade. São levados em conta o clima, o tipo de solo, o ambiente em geral e o horário em que se joga para decidir qual vai aparecer em qual lugar –pokémons mais identificados com água, por exemplo, aparecem perto de lagos
Como são decididos locais que serão pokestops e ginásios?
Pokestops (locais para pegar acessórios do jogo) e ginásios (locais de batalhas) são em geral locais de grande movimento, identificados por geolocalização. A maioria foi catalogada por usuários do jogo "Ingress", também da Niantic, lançado em 2012

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